Entendendo Doenças Otológicas e Otoneurológicas

Otite

É uma inflamação na orelha. Pode acometer a parte mais externa da orelha, otite externa, ou a parte média da orelha, otite média.

Quando ocorre na parte mais externa, pavilhão ou conduto auditivo externo, chama-se: otite externa.

Na maioria das vezes decorre de banhos em locais com água contaminada. O paciente apresenta dor na orelha (otalgia), hiperemia (vermelhidão) e edema (inchaço) das áreas acometidas (conduto auditivo externo e/ou pavilhão). Quando o edema é intenso e o conduto fica muito estreito, a audição pode diminuir.

É mais comum no verão e geralmente melhora com tratamento com gotas otológicas que contêm antibiótico, corticoide e anestésico. Poucas vezes necessita de antibiótico e anti-inflamatório sistêmico (por boca ou venoso).

Outro fator que favorece a otite externa é o uso abusivo de cotonete ou de outros instrumentos pontiagudos para remoção da cera.

Pacientes diabéticos e imunodeprimidos (com queda da defesa imune) podem evoluir com quadros mais severos de otite externa e requerem mais atenção.

A otite média é uma inflamação na parte média da orelha, entre o tímpano e o labirinto, pode ser por vírus ou bactérias. Há otalgia, queda da audição, e as vezes rompimento da membrana timpânica com drenagem (saída) de secreção pelo orifício da orelha.

Geralmente decorre de gripes ou resfriados, sendo mais comum em crianças.

O refluxo gastro-esofágico, frequência a creches, baixa idade, malformações faciais e cranianas, alergia e exposição à fumaça do cigarro predispõem a otites.

O aleitamento materno, vacinação, tratamento da alergia nasal e cuidados antirefluxo (não alimentar deitado, não deitar após alimentação, evitar refeições muito volumosas) são medidas preventivas.

O tratamento geralmente é feito com antibióticos por boca e analgésicos. As vezes há necessidade de associar anti-inflamatório.

Perfuração da Membrana Timpânica

A membrana timpânica é uma estrutura que separa a orelha externa da orelha média. As ondas do som batem nesta membrana, que ao se mover, balança a cadeia de ossículos (martelo, bigorna e estribo). Essa cadeia leva o som para dentro da janela oval (pequena janela que fica entre a orelha média e a cóclea). O som entra na cóclea, onde há células que o transformam em um estímulo neural, o qual é levado até as áreas cerebrais responsáveis pela percepção sonora. Há uma amplificação do som na membrana timpânica e na cadeia de ossículos.

Quando ocorre uma perfuração timpânica, há uma perda auditiva, de intensidade variável a depender do tamanho e localização da perfuração, pois a vibração do conjunto membrana-cadeia fica alterada e a amplificação do som fica prejudicada.

As perfurações do tímpano geralmente ocorrem por trauma com cotonete ou outros objetos pontiagudos, por otites médias e barotraumas (trauma por pressão nos voos ou mergulhos).

A grande maioria das perfurações fecha espontaneamente.

Deve-se evitar a entrada de água na orelha enquanto não tiver ocorrido a cicatrização do tímpano. Pode-se utilizar um algodão embebido em um pouco de óleo (comestível, cosmético) na parte mais externa do conduto auditivo durante o banho, para prevenir a entrada da água, pois quando isto ocorre, as bactérias que normalmente existem na parte externa da orelha podem migrar pela perfuração para a parte média, levando a uma infeção na orelha média e dificultando a cicatrização do tímpano.

Quando não ocorrer a cicatrização da perfuração, pode-se realizar uma cirurgia chamada timpanoplastia.

Perda Auditiva

O som é uma onda que percorre o conduto auditivo externo, bate na membrana timpânica, levando a vibração dos três ossículos (martelo, bigorna e estribo). O sistema membrana e os 3 ossículos amplificam as vibrações que são dirigidas para a orelha interna. Na orelha interna, as vibrações são transmitidas para um fluido localizado na cóclea.

Na cóclea, existem milhares de células sensoriais (células ciliadas). A onda sonora leva a deflexão dos cílios dessas células, o que gera um potencial de ação, que é enviado ao nervo auditivo, que por sua vez, encaminha-o as áreas cerebrais responsáveis pela interpretação dos estímulos sonoros.

Alguns fatores podem provocar o dano ou a perda de células ciliadas da orelha interna:

  • Envelhecimento (presbiacusia), é a principal causa de perda auditiva.
  • Ruído – ruído ocupacional, tais como, de construção, fábricas e barulho recreacional, como de tiro, música alta, podem contribuir para o dano da orelha interna.
  • Hereditariedade – pode deixar a pessoa mais susceptível à perda auditiva.
  • Alguns remédios – o antibiótico gentamicina e certos quimioterápicos podem lesar a orelha interna, levando a perdas auditivas. O ácido acetilsalicílico (AAS), alguns diuréticos, como a furosemida, e algumas drogas usadas no tratamento da malária também podem induzir ao aparecimento de zumbido e/ou perda auditiva.
  • Algumas doenças – como meningite, pode levar a dano coclear.

Perda auditiva gradual ocorre com o envelhecimento.

Para prevenir a perda auditiva deve-se limitar a exposição a sons altos e checar a audição regularmente.

Zumbido

É uma condição que comumente afeta adultos idosos e pode estar associada com perda auditiva.

Envolve sensação de barulho na orelha quando não existe som externo. O barulho pode variar de baixa a altas frequências. Muitas pessoas descrevem como zunido de inseto, campainha etc.

Pode resultar de diversas condições médicas, incluindo exposição excessiva a barulho, perda auditiva relacionada ao envelhecimento, trauma craniano ou na orelha. Altas doses de algumas drogas, incluindo aspirina ou certos antibióticos, bem como, as doenças tais como pressão alta ou aterosclerose, podem também produzir a condição.

Tratamento é dependente da causa, mas em alguns casos o foco do tratamento é ensinar como diminuir a percepção e assim aumentar a tolerância ao zumbido.

Tontura

A tontura pode ser definida por diversos sintomas: desequilíbrio, quase desmaio, instabilidade, cabeça pesada ou leve, sensação de rotação própria ou do ambiente (vertigem).

A tontura pode ter diversas causas: clínicas, neurológicas, hormonais, medicamentosas, psiquiátricas, musculares, cardiológicas, labirínticas. Pode ter cura espontânea ou ser o primeiro sinal de processos de maior gravidade, como AVC ou tumores.

As tonturas de origem no labirinto representam cerca de 25% do total. Esse tipo de tontura  é  tratada por otorrinolaringologista ou otoneurologista.

As causas mais comum de tontura vestibular são:  Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), migrânea vestibular, labirintopatias metabólicas e hormonais, doença de Ménière.

Labirintite refere-se a um processo inflamatório e/ou infeccioso do labirinto. Não é uma causa comum de tontura. Embora os pacientes utilizem o termo labirintite para quase todos os tipos de tontura.

A labirintite pode ser causada por otite média aguda ou crônica, meningite, fístula (comunicação entre o labirinto e a orelha média geralmente decorrente de erosão do canal lateral por colesteatoma (tumor benigno comum da orelha média)  ou por barotrauma (trauma de pressão, como nos mergulhos e voos, com rotura do labirinto).

Labirintite supurativa aguda tem se tornado rara desde a introdução de antibióticos. Os antibióticos são utilizados precocemente em pacientes de risco (meningite ou infecções severas de orelha média), sendo assim, não atingem o labirinto.

A Síndrome Cervical, outra causa de tontura, é a associação de vários sinais e sintomas que envolvem o crânio e a região do pescoço e ombros, tais como desequilíbrio e tonturas, que apresentam origem no segmento cervical (pescoço), ou na transição crânio-vertebral (entre o crânio e as primeiras vértebras cervicais). Pode ser provocada por uma deficiência de fluxo sanguíneo nos vasos que nutrem o labirinto, tronco encefálico e cerebelo (insuficiência vértebro-basilar) ou alterações proprioceptivas (por dor ou tensão) na região do ombro, pescoço ou na transição crânio-vertebral.

O excesso de tensão é produzido por duas causas básicas: emocional e mecânica. É difícil estabelecer qual o fator causal e, assim, as duas causas acabam se inter-relacionando. Os fatores mecânicos incluem os maus hábitos, má postura e alinhamento inadequado do corpo. A tensão excessiva compromete o bom funcionamento dos proprioceptores cervicais (receptores presentes nas vértebras, músculos e tendões da região cervical que sinalizam alteração de posição e tensão nesta região), levando à informação errônea a respeito da situação de equilíbrio. Além disso, alguns autores advogam o fato de que o estímulo desses proprioceptores provocaria espasmo arterial no território vértebro-basilar, levando a isquemia da orelha interna. Após ter sido estabelecida a origem proprioceptiva do processo, o tratamento escolhido estará sempre associado a algum tipo de procedimento físico que vise relaxar a musculatura e corrigir eventuais erros posturais.

Uma forma de tontura crônica, causada por alterações funcionais a nível de sistema nervoso central, considerada uma doença psicossomática, é a tontura postural perceptual persistente. Nesse tipo de tontura, o paciente persiste quase todo o dia e por mais de 3 meses com uma sensação de instabilidade que piora quando fica em pé ou se expõe a estímulos visuais ou de movimento. Acomete mais frequentemente indivíduos com ansiedade e/ou depressão. Geralmente algum evento gera um desequilíbrio inicial. O gatilho habitualmente deixa de existir, mas a tontura se perpetua.

 

Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB)

É a tontura labiríntica mais comum. Causada pela fragmentação (quebra) das otocônias (pequenas pedrinhas que temos dentro do labirinto). As otocônias servem para sinalizar a movimentação da nossa cabeça, quando quebram, se deslocam dentro do labirinto e geram vertigens (tontura rotatória), quando a cabeça é colocada em determinadas posições. A tontura dura alguns segundos, e desaparece espontaneamente com a manutenção da posição da cabeça ou com o seu reposicionamento. Para esse tipo de tontura, não adianta tomar nenhum remédio, pois, o tratamento consiste em deslocar as pedrinhas para uma região do labirinto onde elas serão reabsorvidas. Esse reposicionamento é realizado através de algumas manobras. Quando o paciente assume a posição geradora da tontura, geralmente ocorrem movimentos oculares (nistagmos) típicos de cada região do labirinto onde a pedrinha foi parar. Conseguimos identificar pelo tipo do nistagmo qual o labirinto acometido (da orelha direita ou da orelha esquerda)  e qual o canal acometido, e assim, escolher a manobra adequada para o reposicionamento dos fragmentos, que posteriormente serão reabsorvidos.

A queixa mais comum do paciente neste tipo de tontura, é de vertigem quando hiperestende a cabeça (estende bastante a cabeça para trás, como quando vai colocar roupa no varal, ou quando deita na cama e olha para cima, ou vira a cabeça deitado de um lado para o outro).